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terça-feira, 9 de agosto de 2011

... A Vaca é Sagrada na Índia ...

vaca
Dentre as muitas coisas, que chamam a atenção dos ocidentais sobre a Índia, está o fato de que a vaca seja “sagrada” para a maioria dos indianos.

Tanto é que, o termo “vaca sagrada” significa, dentro de nossa cultura, excesso de lealdade a um órgão ou instituição, que parou no tempo, sem se preocupar com mudanças.

Há aí certa dose de ironia.

E todo mundo sabe o que significa a expressão “vaca de presépio”.

Os brasileiros, na sua maioria, sempre mantiveram um grande fascínio pelas Índias, talvez pelo fato de que a descoberta de nosso país deveu-se à procura dos caminhos para as Índias.

Tanto é que, os habitantes encontrados na nova terra, foram chamados de índios.

Mas não podemos negar que, ao ganharmos um conhecimento mais profundo sobre aquele país, através da novela “Caminho das Índias” e dos artigos postados no blog ALMA CARIOCA – LITERATURA, ficamos cheios de curiosidade, encantamento, mas também aquinhoados com certa repulsa aos costumes, que muito diferem dos nossos.

O que é normal, pois todo homem questiona aquilo que desconhece. É o filósofo que existe dentro de cada um de nós, retorquindo.

O culto à vaca e ao touro foi uma prática comum, em muitas partes do mundo, começando na Mesopotâmia cerca de 6.000 a.C., espalhando-se pelo Noroeste da Índia com a invasão do Vale do Indo, no segundo milênio a.C. por arianos (pastores nômades que estabeleceram a religião védica).

O mais surpreendente é que esse culto persistiu singularmente na Índia, até os dias de hoje.

Gandhi dizia quea grandeza de um país pode ser medida pela maneira como trata os animais”.

Os horrores do mundo ocidental, praticados contra os animais, como caça por esporte, rodeios, touradas, vivisseção, beiram à insanidade.

Mas, concomitantemente, também temos o inverso, que diz respeito aos animais de estimação bem melhor tratados de que as crianças abandonadas.

Por ocasião da Copa do Mundo na China, as pessoas mostraram-se indignadas com a morte de cães naquele país.

Então precisamos ser compreensivos, também, com os indianos, ao se sentirem indignados com a matança de vacas.

Os hindus, vegetarianos mais ortodoxos, nem ovos consomem. Mas outros comem frango, peixe e carneiro.

Na Índia, a grande maioria dos restaurantes é vegetariana. E mesmo as pessoas que comem carne, fazem-no algumas vezes por semana, diferentemente dos brasileiros.

Na Índia, a vaca é chamada de ‘goru’ e não há diferença entre ela e o boi. Vaca é vaca e boi é vaca!

A tradição da sagração da vaca nasceu com o hinduísmo, que considera esse animal até mais “puro” que um brâmane (casta principal).

Não pode ser morto ou ferido, e deve circular por onde bem entender, sem ser incomodado.

O leite da vaca, sua urina e até mesmo suas fezes são utilizados em rituais de purificação.

Somente os muçulmanos (vistos como impuros e seu toque poluente) podem matar as vacas, sendo o ofício de carniceiro exclusivo dessa comunidade. Só se pode comer carne de vaca, em toda a Índia, nos restaurantes muçulmanos.

Todos os outros cidadãos deste subcontinente (hindus, jainistas, budistas e outros), tem a vida como algo sagrado, sendo que a vaca é maior representação dessa.

Na Índia, as vacas passeiam tranquilamente pelas cidades e vilas, sem que sejam molestadas pelos habitantes. Elas morrem de velhice e possuem hospitais próprios.

É interessante notar que, certas pessoas, advindas de todas as castas, incluindo as mais altas, abriram mão de suas profissões, para se devotarem, apenas, ao bem-estar das vacas mais fragilizadas e mais velhas, criando vacarias, sustentadas por elas e por outras pessoas, que cooperam com donativos.

Em alguns lugares, é considerado bom augúrio dar um lanche, um pedaço de pão, ou fruta a uma vaca. No inverso, um cidadão pode ser enviado para a prisão por matar ou ferir uma vaca.

Alguns estudiosos acreditam, que a tradição chegou ao hinduísmo através da influência vegetariana do Jainismo (é uma religião indiana que enfatiza a não-violência e a ascese), mas a vaca continua a ser a mais respeitada e protegida, dentre todos os animais da Índia.

Versos do Rigveda referem-se à vaca como Devi (deusa), identificados com Aditi (mãe dos deuses).

Da vaca tudo é aproveitável, sem a necessidade de matá-la:
  • o leite, chamado de “dut” é usado nas três principais refeições, assim como com arroz, chá ou café.
  • do leite maçado são feitos requeijões artesanais. É o alimento principal para Krishno, o deus do amor;
  • muitas oferendas, nos templos hinduístas, feitas com flores, ovos e doces, levam leite;
  • é o símbolo da vida, importante para a sobrevivência e crescimento das crianças;
  • é de suma importância, para as pessoas da terceira idade, que dele também necessitam;
  • a vaca (assim como o boi) puxa todo tipo de carros, com rodas de pau e de ferro, para semear o arroz e a mostarda;
  • a bosta, depois de seca, é também aproveitada, sendo recolhida, posta para secar nas paredes e muros das casas, e depois é usada como lenha, para fazer o fogo nas cozinhas;
Existe, assim, uma razão econômica, para sustentar a sacralidade da vaca.

Mahatma Gandhi dizia que “Se alguém viesse a me perguntar qual foi a mais importante manifestação do hinduísmo para fora, gostaria de sugerir que foi a idéia da proteção à vaca“.

Mas nem tudo é ouro para as “vacas sagradas”. Apesar de seu status sagrado, elas, nem sempre, parecem muito apreciadas na Índia.

Os turistas, muitas vezes, são surpreendidos, ao vê-las andando negligenciadas pelas ruas, ao redor da cidade, vivendo no lixo das sarjetas.

A vaca é homenageada, pelo menos uma vez por ano, em Gopastami.

No “Vaca Holiday“, as vacas são lavadas e decoradas no templo e oferendas são oferecidas na esperança de que os dons de sua vida continuem.


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